Sustentabilidade na Alimentação: criar valor a longo prazo

Num contexto global que exige uma mudança ambiental e social, a preocupação com a sustentabilidade alimentar está cada vez mais presente no nosso dia a dia

28 · 01 · 2019

No mundo ocidental comemos e desperdiçamos muito. É um fenómeno de uma sociedade que, sendo de consumo, é também de desperdício. Só na União Europeia, são desperdiçados anualmente cerca de 88 milhões de toneladas de alimentos, com um custo associado de 143 biliões de euros. O desperdício alimentar não é apenas um problema ético e económico, mas está também relacionado com a escassez dos recursos naturais.

Gerir e conservar os recursos naturais exige uma orientação mais sustentável de mudança tecnológica e institucional, que consiga assegurar a satisfação contínua das necessidades das gerações atuais e futuras.

Uma alimentação sustentável com um baixo impacto ambiental contribui para conservar a terra, a água e os recursos genéticos das plantas e animais. Para além disso, não degrada o ambiente e é economicamente viável.

O desperdício alimentar, além do gasto inútil de recursos ambientais e económicos, também está associado a um ponto de vista moral pelo facto de milhões de toneladas de alimentos serem lançados ao lixo anualmente, num mundo onde um sexto da população mundial passa fome.

Com o crescimento económico e de consumismo das últimas décadas, o desperdício alimentar assumiu proporções verdadeiramente problemáticas. Em 2011, um estudo da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) revelou que um terço da produção alimentar em todo o mundo é desperdiçada. Nos países industrializados a maioria dos alimentos é desperdiçada a nível da distribuição e do consumo final, enquanto que nos países em desenvolvimento o desperdício acontece sobretudo no início da cadeia, nas fases de colheita, pós-colheita, processamento e armazenamento.

O volume do desperdício alimentar representa uma parte importante dos alimentos que são produzidos, sendo inegável o impacto ambiental que esse desperdício representa. Recursos como solo, energia e água são usados e, por vezes, esgotados ao serviço da produção destes alimentos desperdiçados.

Todos os envolvidos na cadeia alimentar têm um papel a desempenhar na prevenção e redução do desperdício alimentar, desde aqueles que produzem o alimento, àqueles que disponibilizam os produtos para serem consumidos e, por último, aos próprios consumidores.

Cada indivíduo deve envolver-se ativamente na promoção de uma alimentação saudável, que contribua para a diminuição do desperdício alimentar e para a sustentabilidade dos recursos naturais.

Grandes empresas em Portugal apostam na sustentabilidade

O ambiente é um pilar cada vez mais importante para a política de sustentabilidade das grandes empresas de retalho alimentar em Portugal, que já procuram desenvolver a sua atividade de forma a melhorar constantemente a pegada ecológica e operam o mais eficientemente possível, com a criação e implementação das melhores práticas.

A Sonae MC, através da marca Continente, vai investir 110 milhões até 2022, para reduzir a pegada ecológica da sua cadeia de hipermercados e supermercados.

Este projeto pretende investir de forma abrangente nas vertentes da energia, da água, da redução e recuperação do desperdício alimentar e do desempenho ambiental. É esperada uma poupança energética de 10%, além de menores emissões de gases com efeito de estufa.

A aposta na sustentabilidade já não é uma novidade para esta cadeia, que desenvolveu uma iniciativa que visa uma maior ecoeficiência nas lojas de retalho alimentar e, que, no último ano, permitiu reduzir o consumo de água em 3,3% e o consumo de energia em 2,5% (nas lojas com maiores consumos). Estas poupanças proporcionam recursos adicionais aos negócios para investir em inovação, criando novos produtos e serviços, bem como para melhorar o serviço e experiência de compra do cliente, o que contribuiu para o crescimento das vendas. 

Por outro lado, o grupo Jerónimo Martins é o único retalhista português a fazer parte de uma lista das 120 empresas mais avançadas da Europa e nível de práticas de sustentabilidade.

Foram valorizados vários compromissos assumidos pelo grupo, de que se destacam: a redução da pegada carbónica em 5% entre 2018 e 2020; a redução do desperdício alimentar em 10% no mesmo período, face a 2016; e a compra de pelo menos 80? produtos alimentares a fornecedores locais.

As boas práticas do grupo na relação da prosperidade económica, desenvolvimento social e preservação ambiental têm vindo a ser reconhecidas internacionalmente.

O Lidl Portugal também é um bom exemplo. Depois de ter sido pioneiro ao comercializar ovos provenientes em exclusivo de galinhas no solo ou de galinhas ao ar livre, há uns meses reforçou a sua aposta na sustentabilidade ao substituir os ovos usados na preparação dos seus artigos por ovos de solo.

Estes ovos provêm de galinhas criadas em liberdade dentro de pavilhões, onde circulam livremente num ambiente que salvaguarda uma densidade máxima de nove galinhas por metro quadrado. Ao contrário das galinhas de gaiola, que têm os seus movimentos limitados a um espaço pouco superior a uma folha de papel A4, não garantindo o simples bater das asas ou até mesmo caminhar livremente levando à restrição severa do movimento.

Até à data, cerca de 50 dos seus artigos de marca própria já fizeram esta transição, sendo por isso mais sustentáveis.

A par desta inclusão, está também a integração dos ovos biológicos na sua oferta permanente, estando por isso agora disponível em todas as mais de 250 lojas Lidl em Portugal.

E nós, o que podemos fazer?

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Alimentos produzidos de forma sustentável não precisam de rótulos e são adequados ao nosso organismo. São saudáveis para o ser humano, para o solo, para animais e não têm impacto no ambiente.

Reaprender a comer não é um “bicho de sete cabeças” e sabe muito melhor.

As seguintes sugestões têm uma repercussão na nossa qualidade de vida e na paisagem que nos rodeia:

1-                 Coma alimentos locais. Para além de se conseguir alimentos mais frescos ao comprá-los de origem local, estará a alimentar a economia daqueles que lhe rodeiam. Conhecer quem está envolvido na produção e colheita da nossa comida permite saber de que forma é que ela chega até nós. A horta lá de casa, mercados de produtores e cabazes semanais são algumas das opções disponíveis.

2-                 Coma alimentos sazonais. O inverno apresenta naturalmente alimentos mais quentes como raízes e verduras resistentes e no verão há uma abundância de fruta e vegetais para salada. Não só é mais saudável como se torna mais barato já que se respeita os momentos de abundância de cada alimento. Até os ovos e os lacticínios têm as suas épocas de abundância específicas.

3-                 Coma alimentos biológicos. A agricultura biológica valoriza o ciclo de nutrientes entre plantas e animais, a decomposição natural e a diversidade da abundância dos ecossistemas saudáveis. Recorre ao reaproveitamento de recursos orgânicos para a construção de solo e respeita os ciclos do ano no crescimento de cada espécie. Foca-se mais na prevenção de desequilíbrios, como a criação de bom solo, retenção da água no solo, complementaridade das espécies e estabilização da diversidade ecológica. Desta forma colhemos alimentos saudáveis.

4-                 Reduza as embalagens. Os materiais usados nas embalagens alimentares dependem de recursos materiais e energia para a sua produção. Optar por alimentos eficientemente embalados ou embalados com materiais reciclados permite reduzir a quantidade de lixo que acaba em aterros. Uma óptima estratégia para reduzir embalagens é comprar produtos a granel. Use sacos de pano para ir às compras. A maior parte dos alimentos não precisam de ser ensacados pois já possuem a sua embalagem natural. Se for inevitável o uso de alimentos embalados prefira as embalagens de vidro porque podem ser reutilizadas para acondicionar alimentos preparados em casa. Opte por filtrar a água da torneira para encher uma garrafa em vez de beber água engarrafada.